Análise
sociológica sobre o sistema educacional brasileiro
Fundamentação teórica:
análise de Pierre Bourdieu
Crítico dos mecanismos de reprodução das desigualdades
sociais, Pierre Bourdieu destaca em sua obra os condicionamentos materiais e
simbólicos que agem sobre nós (sociedade e indivíduos) numa complexa relação de
interdependência. Ou seja, a posição social ou o poder que detemos na sociedade
não dependem apenas do volume de dinheiro que acumulamos ou de uma situação de
prestígio que desfrutamos por possuir escolaridade ou qualquer outra
particularidade de destaque, mas está na articulação de sentidos que esses
aspectos podem assumir em cada momento histórico.
A estrutura social é apresentada por Bourdieu como um
sistema hierarquizado de poder e privilégio, determinado tanto pelas relações
materiais e/ou econômicas (salário, renda) como pelas relações simbólicas
(status) e/ou culturais (escolarização) entre os indivíduos. Dessa forma, a
diferente localização dos grupos nessa estrutura social deriva da desigual
distribuição de recursos e poderes de cada um de nós.
Assim, a posição de privilégio ou não privilégio
ocupada por um grupo ou indivíduo é definida de acordo com o volume e a
composição de um ou mais capitais adquiridos e ou incorporados ao longo de suas
trajetórias sociais. O conjunto desses capitais seria compreendido a partir de
um sistema de disposições de cultura denominado por ele habitus.
Bourdieu põe em discussão, dessa forma, o
consenso relativo à crença de que gosto e os estilos de vida seriam uma questão
de foro íntimo. Para o
autor, o gosto seria, ao contrário, o resultado de imbricadas relações de força
poderosamente alicerçadas nas instituições transmissoras de cultura da
sociedade capitalista.
Bourdieu
argumenta que essas instituições seriam a família e a escola; seriam elas responsáveis pelas nossas competências
culturais ou gostos culturais. A distinção entre esses dois tipos de
aprendizado, o familiar e o escolar, refere-se a duas maneiras de adquirir bens
da cultura e com eles se habituarem.
Em síntese, para Bourdieu o sistema escolar, em vez de
oferecer acesso democrático de uma competência cultural específica para todos,
tende a reforçar as distinções de capital cultural de seu público. Agindo dessa forma, o sistema escolar limitaria o acesso e o
pleno aproveitamento dos indivíduos pertencentes às famílias menos
escolarizadas, pois cobraria deles os que eles não têm, ou seja, um
conhecimento cultural anterior, aquele necessário para se realizar a contento o
processo de transmissão de uma cultura culta. Essa cobrança escolar foi
denominada por ele como uma violência simbólica, pois imporia o reconhecimento
e a legitimidade de uma única forma de cultura, desconsiderando e
inferiorizando a cultura dos segmentos populares.
Síntese realizada no texto: Organização do Trabalho Pedagógico - Pensadores da
Educação - Pierre Bourdieu. Texto adaptado do artigo: Uma introdução a Pierre Bourdieu de Maria da Graça Jacintho Setton.
Contextualização sobre o sistema educacional brasileiro
e suas desigualdades.
A
escola reproduz as desigualdades sociais por ser mais favorável aos alunos
social e culturalmente privilegiados. Partindo desses estudos, podemos observar
em primeiro lugar, que essas variações não se explicam diretamente pela
amplitude das desigualdades sociais. Para explicá-las é preciso levantar duas
outras questões.
A
primeira tange à organização dos sistemas escolares, os quais podem aumentar ou
atenuar o impacto das desigualdades sociais sobre as desigualdades escolares. A
segunda se refere aos impactos da escola, à influência dos diplomas para a
mobilidade social.
Quanto
mais determinante for o papel dos diplomas, mais marcadas serão as desigualdades
escolares e mais rígida será a reprodução das desigualdades sociais.
Finalmente, a função atribuída à escola pelas diversas sociedades determinará a
amplitude da reprodução social.
Vejamos uma reportagem da jornalista Priscila
Cruz na revista Geografia, publicado inicialmente em 01/06/2012 no jornal Folha
de São Paulo.
Desigualdade educacional
Em
várias áreas, a desigualdade ainda é uma das características mais marcantes do
nosso país, um eco da nossa história, que torna comum a ideia de que é natural
que haja diferenças de oportunidades entre os grupos sociais. E a desigualdade
educacional talvez seja a mais cruel de todas. Tão importante quanto melhorar a
qualidade da educação básica, garantindo a aprendizagem de que os alunos
precisam para a vida, é combater as desigualdades educacionais.
Diversos
indicadores educacionais apontam para resultados extremamente desiguais. E um
resultado ruim puxa outro. As crianças que vivem em famílias mais pobres
frequentam menos a educação infantil. A taxa de conclusão do ensino médio é
menor entre os jovens cujas mães têm baixa escolaridade. As escolas que
apresentam resultados de desempenho mais baixos estão concentradas nas regiões
mais pobres.
Em
um país tão desigual, as médias dizem pouco. Elas são insuficientes para a
avaliação dos cenários reais. Escondem, por exemplo, os que estão muito lá
atrás ou os que estão muito à frente. Quando o foco era universalizar as
matrículas, as políticas eram mais homogêneas, pois construir uma escola, por
exemplo, para uma criança com mais dificuldade em matemática é igual a
construí-la para outra que esteja defasada em leitura e escrita. Atualmente, o
maior desafio é a qualidade do ensino, o que torna a política educacional mais
complexa, pois ganhos de qualidade com maior equidade dependem de reconhecermos
as diferentes necessidades de cada rede, escola e aluno. Portanto, precisamos
ter diagnósticos claros e mais desagregados, estratégias diversificadas e mais
precisas e implementação competente e mais eficaz.
TOPO DO RANKING
Não
existe qualidade sem equidade. Os países que estão no topo do ranking mundial da educação apresentam
uma média alta de desempenho e baixa desigualdade entre alunos e redes. Um
exemplo é o Canadá, país entre os cinco primeiros colocado no Pisa – Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes –, que, apesar de abrigar um fluxo
imigratório intenso de famílias de várias partes do mundo, tem uma das menores
desigualdades educacionais.
Este
é o momento de termos políticas públicas específicas para problemas
específicos, adequadas a cada caso, que garantam uma atuação mais estratégica
para lidar com um objeto muito mais sofisticado – a aprendizagem de todos e o
combate à desigualdade. Em uma sala de aula, nenhum aluno pode ficar para trás,
esteja ele na região Sul ou na região Norte do País, seja ele de família de
baixa ou de alta renda. Vale sempre lembrar que o direito à educação de
qualidade é universal e igual para todos. O Brasil só será um grande país
quando for realmente de todos.
PRISCILA CRUZ é
diretora executiva do movimento todos pela educação. Artigo originalmente
publicado no jornal Folha de S. Paulo em 1º/6/12.
Considerações finais
Bourdieu
deixou claro em que a desigualdade escolar existe, mas muitas vezes está
mascarada. A escola tem que ser um lugar onde o aluno consiga aprender valores
e expor as suas ideias sem influencia das classes dominantes, pois ao passar
para os alunos valores que foge da sua realidade ele perderá o interesse de
estudar.
O sistema educacional brasileiro é
pessimo e precisa passar por uma mudança, não só o sistema, mas os professores.
Ao comparar a visão de Bourdieu com a sala de aula que fiquei no estagio, pude
entender que a desigualdade começa dentro da sala de aula, a professora
simplesmente ignorava os alunos que ela considerava terriveis, e sempre elogiva os bonzinhos, causando uma frustração
para aos outros.
Infelizmente essa é a realidade do
nosso pais, alunos crescem desmotivados e consequentemente serão adultos sem
auto-confiança, sem possibilidade e vontade de entrar em uma universidade, pois
para ele foi tão frustante a escola que a universidade seria retomar o que já
passou e ele não quer lembrar. Para que investir na educação igualitaria?
crianças bem formadas, serão adultos pesquisadores, que anseia pelo
conhecimento, e para o nosso governos isso não é vantagem.
Eu sei que é dificil, mas nos como
futuros professores devemos começar a plantar essa sementinha em nossos alunos,
e mostrar para eles que todos são capazes, independente da classe social e que
o caminho não é facil mais a busca pelo saber o levará longe.
Referências Bibiográficas
BUSETTO, Áureo. A Sociologia de Pierre
Bourdieu e sua análise sobre a escola: In: CARVALHO, A. B.; SILVA, C. L. da.Sociologia e educação: leituras e interpretações.
São Paulo: Avercamp, 2006. P. 113 - 133. (Livro-texto).
ENTREVISTA: Bourdieu – A sociologia como esporte de
combate e reprodução social. Disponível
em: <http://www.youtube.com/watch?v=zO4QuCSMO0k>. Acesso em: 29 mar.
2013. FERNANDES, Elisângela. Desigualdades em campo. Revista Educação.
Disponível em: <http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/163/artigo234867-1.asp>.Acesso em: 14 Nov.
2014.
FERRARI, Márcio. Pierre Bourdieu, o investigator
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2008. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/fundamentos/pierre-bourdieu-428147.shtml?page=>. Acesso em: 14 Nov.
2014.
Fruet, Henrique. A aula do futuro.
Revista Isto é. N° Edição: 1613, 23.Ago.00. Disponível em:<http://www.istoe.com.br/reportagens/32911_A+AULA+DO+FUTURO>. Acesso em: 14 nov.
2014.
IPEA - Apesar de avanços, há muita desigualdade na
educação. Disponível
em: <http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=6183>. Acesso em: 14 nov.
2014.
Governo do Estado do Paraná /Secretaria da educação /
Organização do Trabalho Pedagógico - Pensadores da Educação - Pierre Bourdieu.
Texto adaptado do artigo: Uma introdução a Pierre Bourdieu de Maria da
Graça Jacintho Setton.
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=443 / acesso em
14/11/2014.
Revista Geografia / Desigualdade educacional PRISCILA CRUZ é diretora executiva do movimento todos pela educação.
Artigo orig. publicado no jornal Folha de S. Paulo em 1º/6/12.
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